domingo, 29 de abril de 2012

Projeto da Petrobras e UFRN estuda a extração de óleo nos organismos

A alta produtividade como matéria prima para biocombustíveis coloca as microalgas em um caminho promissor no desenvolvimento das energias renováveis no Brasil. Embora se trabalhe há pouco tempo com foco no biodiesel, as pesquisas sobre esses vegetais chegam a um momento importante com a realização de testes fora dos laboratórios, um novo passo que envolve diretamente o Rio Grande do Norte. No início do mês foi inaugurada uma planta piloto no município de Extremoz em projeto desenvolvido pela Petrobras em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Desde 2006 a companhia estuda a extração de óleos presentes nas microalgas para produzir biodiesel.

Para se ter ideia do potencial, é possível produzir um percentual de biodiesel 10 a 20 vezes maior do que o obtido a partir do dendê e da palma, oleaginosas que possuem os melhores rendimentos. A coordenadora do projeto no RN, Juliana Espada Lichston, detalha que é possível extrair entre 40% e 45% do total de óleo presente na biomassa das microalgas. "Estamos estudando se isso vai se projetar em larga escala", afirma a pesquisadora, que também coordena o Laboratório de Anatomia Vegetal da UFRN. Os organismos utilizados até o momento na pesquisa são colhidos no litoral potiguar. Do total de 26 espécies identificadas no laboratório, duas passam pelos testes na planta piloto.

Na estrutura montada em Extremoz os organismos estão sendo testados dentro de reservatórios com capacidade para quatro mil litros de água, enquanto nos laboratórios o trabalho era feito em garrafões de até 20 litros. A pretensão, de acordo com Juliana Lichston, é que no segundo semestre deste ano a produção passe para tanques de 20 mil litros. No ano que vem a escala deve chegar a 100 mil litros, um nível semi-industrial. O pesquisador e coordenador do projeto pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Petrobras, Leonardo Bacellar, informa que o material colhido nessa fase inicial será direcionado a pesquisa, e somente em longo prazo acoleta pode atingir uma quantidade suficiente para ser comercializada no mercado.

Leonardo Barcellar conta que o momento é de analisar o desenvolvimento das microalgas sob a nova perspectiva de ambiente. "A proposta que estamos desenvolvendo é sair dos resultados de laboratório, onde temos luz artificial e controlamos a temperatura. Quando sai você submete a outras condições. Vamos observar o comportamento", diz. O gerente de Gestão Tecnológica da Petrobras, João Norberto Noschang acrescenta que a evolução para a escala piloto permitirá a identificação da produção em um novo estágio e as épocas propícias para coleta. Na reprodução a céu aberto também poderão ser analisados fatores maléficos ao desenvolvimento das microalgas, como a atuação microorganismos presentes tanto no ar quanto na terra. "Pode haver danos à reprodução e equilíbrio", avalia. 

Clima incentivou instalação da planta piloto

A instalação da planta em território potiguar está diretamente relacionada ao clima ensolarado do estado, conforme explica João Norberto Noschang. "O que se viu do comportamento dessas microalgas é que elas se reproduzem mais com a presença de luz, e não existe potencial maior que o RN para sol. Um clima adequado para reprodução", afirma. Sobre os primeiros resultados nos tanques maiores da planta de Extremoz, a coordenadora do projeto revela que inicialmente a reprodução vem acontecendo de forma similar ao que ocorreu no laboratório.

O gerente de Gestão Tecnológica da Petrobras confirma os bons resultados. "Estão respondendo melhor do que se esperava", diz. Noschang acrescenta ainda que as safras de microalgas são colhidas quase diariamente em períodos que variam de um a quatro dias. Comparando com as oleaginosas, que possuem safras bem mais alongadas, a vantagem é notável. Entretanto, o pesquisador cita uma série de desafios, principalmente com relação ao gasto de energia, que deve ocorrer em menor quantidade quando comparado ao percentual de produção. Leonardo Bacellar engrossa o coro. "O principal motor é o custo associado a esse tipo de produção", conclui.

Associado à planta piloto de Extremoz, outras modalidades de pesquisas referentes às algas estão sendo desenvolvidas dentro do programa das Redes Temáticas, criada pela Petrobras em 2006 possibilitando atividades junto a universidades e institutos de pesquisas brasileiros. De acordo com Leonardo Bacellar estão envolvidas no projeto das microalgas UFRN, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal de Viçosa (UFV), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Fundação Universidade Federal do Rio Grande. "São várias linhas de pesquisa que não se superpõe", ressalta o pesquisador.

Enquanto a UFRN tem trabalhado com a produção em escala maior, João Norberto Noschang revela que a Universidade Rio Grande vem trabalhando a produção de microalgas geneticamente modificadas. "Os organismos modificados produzem mais óleo", ressalta JulianaLichston. No Rio de Janeiro bancos com os organismos vegetais estão sendo viabilizados. De acordo com o gerente de Gestão Tecnológica, a Petrobras investiu em torno de R$ 3 milhões nas pesquisas dentro das universidades e instituições nacionais de ciência e tecnologia.

Além da produção de combustível, os organismos absorvem gás carbônico da atmosfera a taxas mais elevadas que outros vegetais, e ainda limpam a água utilizada na produção. A professora Juliana Lichston lembra que as pesquisas sobre microalgas começaram com outra finalidade, até que acabou sendo descoberto o potencial para a produção de biodiesel. "As microalgas eram muito utilizadas para a venda de pigmentos", explica.

Entenda o processo

O processo de extração do óleo para biocombustíveis começa com a coleta das microalgas marinhas. Na sequência os organismos vão sendo submetidos a um escalonamento no qual é aumentada a produção dos vegetais. A fase seguinte é a inoculação, no qual o material é transferido de tanques de 20 mil litros para reservatórios com capacidade para quatro mil litros. As microalgas então passam por um processo de filtragem da biomassa. Depois, com uso do solvente, é feita a extração do óleo. O material extraído é transformado em biodiesel a partir de reações químicas. A produtividade estimada é de 10% a 20% da matéria prima empregada no processo. 



Fonte; DN Online

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